São Paulo, assim como a maior parte das grandes cidades brasileiras e de boa parte do mundo em desenvolvimento, apresenta algumas fraturas sócio-espaciais difíceis de ignorar. Não são raras as situações em que, numa caminhada de poucas dezenas de metros, mudamos dramaticamente de contexto, como que da água para o vinho ou do céu ao inferno. Essa ruptura é explorada no artigo "A favela do Parque Cidade Jardim: uma metáfora da São Paulo moderna", escrito por André de Oliverira e publicado em janeiro do jornal El País, onde o autor narra uma espécie de "movimento migratório" diário dos funcionários do Parque Cidade Jardim - um dos complexos mais elitistas e herméticos da cidade - em seu horário de almoço, que vão encontrar na favela Panorama um lugar para comer por um preço que caiba no vale-refeição.
"Composto por um shopping, onde relógios ao preço de 200 mil reais são artigos triviais nas vitrines; por nove torres residências, com apartamentos que variam entre 235 e 1885 m²; e, por fim, como quase tudo ali é batizado em inglês, pelo Corporate Center, com três towers comerciais", o Parque Cidade Jardim, localizado às margens do Rio Pinheiros, sintetiza alguns dos maiores problemas urbanos das cidades brasileiras e, como aponta Maria de Lourdes Zuquim, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, "a presença de algo assim destrói os tecidos urbano e social da cidade." Não é difícil perceber isso quando se caminha por lá; na realidade, o que se percebe é a dificuldade de identificar a própria cidade.
Assista no vídeo acima ao teaser do documentário "O Castelo", de Alexandre Wahrhaftig, Guilherme Giufrida, Helena Ungaretti e Miguel Antunes, que narra um dia no complexo Cidade Jardim. O documentário pode ser assistido no dia 3/3, em São Paulo, durante a Mostra Curtas Premiados do Itaú Cultural.
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